domingo, 2 de julho de 2017

O elitismo nos grupos disfuncionais

Grupos manipuladores precisam de uma boa dose de elitismo para se perpetuarem. Quando falo em elitismo, me refiro ao sentimento de fazer parte de um grupo seleto, especial, escolhido etc. A criação de um orgulho coletivo exagerado.
Um pouco de orgulho é saudável e fundamental para criar vínculos de grupo. Basta lembrarmos quando fazíamos uniformes e gritos de guerra para animar a torcida nos jogos escolares. Ou as festas e rituais de passagem coletivos, como aniversários e formaturas. É normal que os grupos tomem iniciativas para fortalecer o senso de pertencimento, de que vale a pena fazer parte do grupo. Entretanto, nos grupos disfuncionais, o senso de pertencimento passa da conta, provocando sentimento de que a vida fora do grupo tem pouco sentido e não vale a pena.
Este sentimento é incutido de várias maneiras, graduailmente. Uma delas é fazendo críticas a tudo o que esta fora, predispondo no visitante a formação de um senso de superioridade. Alguns grupos são mais cautelosos com o recém-chegado, para não assustá-lo nem parecerem arrogantes. Outros já contam com multidões fazendo coro e podem se dar ao luxo de discursar agressivamente até em atos públicos, cativando os ouvintes mais raivosos. Grupos com alguma tradição normalmente formam uma linguagem própria. No caso das "seitas", palavras para identificar pejorativamente quem está fora do grupo, bem como palavras para fortalecer o orgulho de pertencimento ao grupo, estarão entre as primeiras a serem criadas.
Observe que não se trata de uma competitividade pontual como, por exemplo, de times ou empresas querendo se mostrar melhores que seus concorrentes. Mesmo que nestes casos a competição possa se tornar exagerada ou desonesta, ela se difere do discurso das seitas pelo fato que estas últimas procuram se mostrar superiores em todos os aspectos. Não se trata mais de uma empresa querendo ser reconhecida por ter o melhor refrigerante, ou de um torcedor vibrando quando seu time vence, mas de um grupo que vai tomando papel de caminho melhor ou único para tudo na vida da pessoa.
É muito comum que membros de grupos disfuncionais sintam que finalmente encontraram o caminho que dá sentido à vida, caminho este vinculado ao grupo. Esses grupos se aproveitam de descontentamentos e inadaptações para seduzir novos adeptos com promessas de conhecerem a solução para suas dificuldades. Pessoas que se sentem desamparadas, desorientadas ou desiludidas com a vida têm mais chance de cair nesse tipo de "conto do bilhete premiado". Com o fortalecimento deste sentimento, ao longo do tempo, o membro sentirá que não há vida fora do grupo, portanto estará suscetível a aceitar as determinações dos líderes.

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